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Um herói pífio


João Ferreira leite Luz
(Contos)

“Hay hombres que luchan um dia y son buenos. Hay otros que luchan un año y son mejores. Hay quienes que luchan muchos años y son mui buenos. Pero hay los que luchan toda la vida, Esses son los imprescindibiles. (Bertolt Brecht)

A espada já há muito estava apegada à mão. O valente havia lutado diversas batalhas ao longo de sua vida quixotesca. Num momento um misto de cansaço e desanimo e falta de fé faz com que o herói repouse sua espada já cansada sobre o chão.
De repente, e por um instante achou que sua espada estava mais pesada que de costume, talvez a armadura não lhe caísse tão bem como quando ele era ainda jovem.
Entretanto, falta-lhe uma batalha, talvez a última antes do grande prêmio. A última grande prova e, talvez, o maior teste de sua vida fugaz.
Finalmente chegada era à hora de provar-se idôneo e valente e valoroso.
Ele sente-se forte e capaz de vencê-la e por nenhum instante imaginou perder para algo que julgava de pouca relevância.
Um dia uma surpresa, sem que ele esperasse a grande prova estava diante dele parada, quieta, imóvel, provocante e belamente desafiadora.
Diante daquilo que o herói sempre buscou enfrentar, agora ele para um pouco, reflete e até cogita que a tentação não seria assim tão fácil de vencer, porque percebeu afinal que a tentação não era apenas externa, mas brotava primeiro do âmago do seu ser, era parte dele mesmo.
Uma dúvida então ataca o valente fazendo seu coração acelerar, um arrepio seguido de tremor toma conta do seu corpo. Porque talvez, e só agora ele percebe-se passível da derrota.
Agora o herói está diante da maior batalha possível. O valente luta, e, luta de novo, ainda outra vez luta, entretanto, sem sucesso cai, capitula, joga a toalha depois de anos a fio de batalha.
Derrotado, convencido da sua fraqueza e de sua igualdade com os demais humanos. Ele próprio passa a se tornar mais humano, menos divino, perdera sua força hercúlea, um reles mortal entre os mortais.
Só lhe sobra agora caminhar pela senda dos ordinários dependendo não mais dos seus feitos heróicos, do seu talento e da sua grande força, mas sim da misericórdia alheia.