João Ferreira Leite Luz
(Declarações de amor/ paranóicas)
Ingenuidade?
Não. Com certeza tudo estava minimamente calculado. Um crime premeditado, bem
orquestrado, ou não? Será mera coincidência e golpe e capricho do destino. Não
consigo responder com precisão.
Tudo que me lembro é tão vago e
tão profundo que até me confundo. A simples lembrança me faz perder a linha e o
carretel e também a pipa. Perco o sentido, a razão. Sobra-me apenas a emoção e
a saudade do momento que fui feliz e sabia.
Um beijo sincero e desejado.
Um olhar profundo e ao mesmo
tempo meio vago e perdido no horizonte.
Um abraço.
Silêncio,
Mais um beijo desejado e sincero.
(Pausa – molho as palavras com
uma boa taça de Cabernet-Merlot, e volto a escrever).
Então as palavras se tornaram
desnecessárias e fúteis.
Pouco tempo depois as mesmas
palavras se tornam necessárias e úteis. Nesse ponto muitas palavras são ditas e
ouvidas. Depois silêncio novamente.
Meu suor se apega ao seu suor.
Êxtase, êxtase e êxtase. Um poço de êxtase.
Minhas lágrimas se confundem com suas lágrimas.
Minha rua é sua rua.
Meu sofrimento, tua tristeza,
Sua tristeza, meu sofrimento.
Seu sobrenome agora é meu sobrenome.
Meu corpo é seu corpo. Sua alma se apega com violência a
minha própria alma.
Tornamos-nos um só.
Indissolúveis,
Inseparáveis, e,
Paradoxalmente seguimos cada um solúvel e separado rumo aos
nossos antros de cimentos acinzentados.
A seguir uma decisão mal decidida.
Só sobrou então a incerteza e a dúvida incerta...
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