Cogitações Apenas

 Numa de suas cartas Paulo, apóstolo quando escreve aos cristãos de Roma ele diz que "a tribulação produz perseverança". Ou em outras palavras, são as situações ruins que nos fazem continuar tentando, nos torna tenazes. Ou seja, a força motriz que nos impulsiona a levantar corajosamente todos os dias de manhã e encarar de frente a feiúra, dureza e injustiças da vida é a capacidade de perseverar-insistir-teimosamente. E a perseverança por sua vez vem do embate diário. Pois sem luta não se faz campeão.

 "Por seus frutos os conhecereis" foi o que Jesus falou sobre quem somos de fato. Independentemente de quem queremos aparentar ser, ou da ideia que passamos de quem nós somos. Somos quem somos, mesmo que falem outras coisas a nosso respeito, aliás, somos quem somos independente inclusive do que falamos de nós mesmos. Portanto, são nossas atitudes (frutos na psicologia bíblica) quem denunciam quem somos nós embaixo da máscara.

 O quarto mandamento sugere que os pais devem ser tratados com respeito, distinção e acima de tudo serem amparados em sua velhice. O que me espanta é perceber que faço parte de uma geração de religiosos que necessitam mesmo de um mandamento para honrar os pais, o que ao meu ver, deveria ser o movimento com que se age na maior naturalidade os filhos. Que lástima, necessitar que um sacerdote fique esbravejando tal necessidade óbvia.

 Depois da Páscoa muitos não se lembrarão do que aconteceu nesse dia. Sem falar aqueles que não se lembraram nem no dia, e ainda, aqueles que, sequer sabem o que se comemora neste dia, acreditam mesmo que é dia do ovo da páscoa. Contudo estou falando mesmo dos ditos cristãos que guardarão para a próxima páscoa para se lembrarem pifiamente que se trata da ressurreição. Enquanto isso no coração dos simples e pequeninos Cristo ressurge todos os dias.

 Domingo ainda de madrugada as mulheres foram ao túmulo para limpar o corpo com unguentos aromáticos como era o costume. O morto já não estava mais lá. A ressurreição de Jesus não apenas deixou o túmulo vazio como alvoroçou os sacerdotes e líderes romanos. E, acima de tudo reacendeu a chama fria e apagada do sábado, chama esta que arde como sol do meio dia em meu coração.

 O hiato criado pelo sábado entre a morte e a ressurreição de Jesus gera uma tristeza profunda e sem igual nos seus seguidores. O dia que antecedeu a páscoa foi de agonia e desespero e desesperança, já que os discípulos não haviam entendido muito bem a conversa sobre ressurreição e a luz que ilumina todos agora está sepultada.

 "Consummatum est". As palavras ditas por Jesus na cruz pouco tempo antes da sua morte. Hoje nesse dia icônico, sexta-feira santa, da paixão, o Cristo bradou que estava finalizado seu maior propósito entre nós. Agora a graça absurda que se entregou antes da fundação do mundo é visível a todos os homens em uma cruz.

 Quando Jesus ensinou a oração Ele disse : "e nos livre do mal". Apressadamente imaginamos quanto mal os outros podem nos fazer, ou já de cara pedimos um livramento de algum perigo eminente, ou pedimos proteção, ou ainda, pedimos pra fechar nosso corpo, livrar do mal olhado, da inveja e etcetera. Entretanto, nos esquecemos de uma outra possível leitura, de que o maior mal que ele pode nos livrar vem do nosso próprio coração.

 "Mas os lavradores disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo, e a herança será nossa’". (Evangelho de Marcos 12:7). Sabidamente sabemos que Jesus estava falando dos judeus que não o aceitaria como Rei, Senhor e Deus. Pergunta óbvia; a igreja está aceitando?  Ou segue o mesmo caminho crucificando o filho pra ficar com uma pretensa herança efêmera? Tá bom, paremos de falar do coletivo e estreitemos um pouco mais; você que me lê, está aceitando? Ou está só interessado na herança-bençãos. Não me responda, pois, Ele mesmo disse "pelo seus frutos os conhecereis". A resposta, portanto, não é verbal e sim uma maneira de se viver, uma filosofia de vida, um modus vivendi. Seu jeito de viver é a resposta...

 Curiosamente o evangelho cresce somente para dentro de nós. Contudo, seus desdobramentos nunca acontecem na abstração e sim no encontro com o outro. Em outras palavras, cresce para dentro da interioridade e se manifesta no trato com as pessoas do lado de fora. Pergunta básica; você já foi gentil com alguém hoje?  Ou está se escondendo atrás da máscara da sua religião?