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Um homem de caráter transformado


O Gênesis em sermões expositivos


Texto: Gênesis, 44.

Acredito que a pergunta primordial é a seguinte: Porque José faz toda essa armação? Que inclusive diante de uma leitura simplista e desatenciosa, dá a entender que José está querendo se vingar de seus irmãos.
È a partir da resposta correta a essa pergunta que começaremos não apenas a entender toda trama do texto, como também teremos a possibilidade de extrair lições a respeito da vida.
Penso que José fez toda essa encenação com o intuito único de testar o caráter de seus irmãos, para ver se ainda eram os mesmos gananciosos, invejosos, e mentirosos do passado. Ou se tinham mudado mesmo.
Vejamos o que escreveu o respeitado historiador Flávio Josefo a respeito:
...”Queria desse modo experimentar a disposição dos irmãos para com Benjamim, para ver se o auxiliariam quando ele o acusasse daquele furto ou se o abandonariam sem se incomodar com a sua sorte...”.
Historia dos Hebreus pg. 128
Nota: Flávio Josefo, escritor e historiador judeu que viveu entre 37 a103 d.C.

O que uma história tão estranha e aparentemente sem nexo tem haver com nossa realidade hoje?

1) Quem possui caráter transformado, aprende a assumir suas culpas v.16.

Judá entendeu que a situação pela qual passavam, era um desdobramento ou uma espécie de julgamento divino, pelo crime que eles cometeram contra José no passado.

È interessante notar que a transformação no caráter, é um processo que vai se desenvolvendo pelo resto da vida. Não acontece do dia para noite, é à medida que vamos caminhando. Vejamos o que diz o Ricardo Gondim:
“A conversão de um pecador é um milagre que acontece num estalar de dedos, mas a construção de um pecador em um santo é uma tarefa que leva que vida inteira”.
Percebam que Judá já vinha a algum tempo aprendendo a se assumir como culpado. Como naquele episódio envolvendo Tamar sua nora, em que ele diz: ...”Mas justa é ela do que eu...”. (Gn 38.26)
È errado querer que aqueles que aceitaram a fé há pouco tempo, tenham o mesmo padrão de vida cristã daqueles que já estão na caminhada há mais tempo.
O outro lado da moeda também é verdadeiro, ou seja, é lastimável quando aqueles que estão na caminhada cristã há muito tempo e ainda não aprenderam assumir seus erros, e vivem se escondendo (de quem?).
Acredito que um dos erros de Adão e Eva foi exatamente esse, não assumiram sua culpa diante de si mesmo e diante de Deus, antes preferiram se esconder e jogar a culpa nas costas do outro (Gn 3.12-13).
Então aprendemos com Judá, que nunca é tarde demais para ser transformado.


2) A mudança no caráter é percebida nas atitudes e não simplesmente em palavras. V.33-34.

Acredito que foi essa a razão pela qual José está testando seus irmãos, para constatar, se a mudança é só de palavras, da boca para fora ou se é verdadeira, através de atitudes concretas.
A mudança no caráter é nitidamente perceptível na atitude dos irmãos de José (v.13,16).
O interessante é que dos versículos 18 a 32, Judá faz um dos discursos mais belos do Antigo Testamento. Mas é só no versículo 33 e 34, que ele toma uma atitude, mostrando assim que não era apenas um palavrório.
Judá estava experimentando o que os teólogos chamam de metanóia. Palavra de origem grega de onde vem o termo arrependimento.
Metanóia, geralmente é traduzida como “mudança de mente”, mas que também pode significar a capacidade de ver as coisas por outro ângulo.
A experiência do metanóia-arrependimento, nos habilita a dizer: “mudei, já não penso mais assim; ou já não consigo ver as coisas desse jeito.”.
O arrependimento-metanóia, redefine nossos valores e prioridades, faz-nos mudar de atitude e de comportamento. Vejam que Judá outrora ganancioso incentivou seus irmãos a venderem José como escravo, e agora estava disposto a tornar-se escravo para defender Benjamim com a própria vida.
Anteriormente, a ganância e a paixão lhe governavam a vida, mas agora estava pronto a fazer um sacrifício altíssimo em prol do outro.
A igreja ainda confunde arrependimento com remorso barato e emotivo.
Infelizmente achamos que arrependimento é aquele acontecimento típico de ambientes piegas, em que na hora do apelo vamos à frente da igreja e emotivamente choramos. Mas quando voltamos para casa à vida continua a mesma.
Arrependimento-metanóia, é abandonar uma direção e tomar outro rumo, dar meia volta e mudar de rota.
Gostaria de finalizar com as palavras do Ed René Kivitz:
“Remorso é apenas uma tristeza em relação ao caminho que está sendo trilhado o arrependimento implica transformação-mudança nas atitudes e na disposição da vontade”.
Vivendo com propósitos pg.99 - ed. Mundo cristão.

Que a igreja moderna aprenda o real sentido do significa conversão-arrependimento-metanóia, a partir da vida de um personagem bíblico chamado Judá.

Mudar é preciso
João Ferreira Leite Luz.

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