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Perguntas que precisamos responder


Breve reflexão sobre a igreja como seguidora de Cristo. 


Texto: Romanos, 8.28-39

Paulo apóstolo, levantou algumas questões cerca de 2000 anos atrás, que ainda hoje possuem grande peso, e, precisam ser respondidas. Porém, entendo que tais questões não são suficientemente respondidas apenas com palavras, mas principalmente através das posturas que assumimos diante de cada uma delas.

Vejamos:

1. Se Deus é por nós, quem será contra nós? V. 31.

Em outras palavras, se Deus está ao nosso lado, quem nos vencerá?
Estamos vivendo uma igreja amedrontada, uma igreja pós-moderna que tem dado uma ênfase exagerada à chamada “batalha espiritual”, como se o diabo estivesse prestes a nos destruir.
Vivemos a geração dos pregadores que tem medo de retaliação na família, medo do diabo fechar a porta de emprego; medo de acidentes provocados por demônios que recebem até nomes próprios (tranca-rua). Os crentes da atualidade se vêem apavorados por causa de macumbas, feitiços, comidas consagradas em centros de feitiçaria. Temem até usar determinada grife de roupa, ou de perfume.
Existe uma ala evangélica que tem até medo de maldições, pragas, olho gordo e até da chamada “maldição hereditária”. Que em minha opinião é um enfraquecimento da doutrina da regeneração, pois dizem que o crente mesmo depois de convertido ao Senhor Jesus, portanto uma nova criatura, ainda sim necessita de quebrar maldições familiares. Isso beira o absurdo diante da proposta de Paulo em 2 Corintios 5.17, em que se lê: “Assim que, se alguém esta em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. O grande problema é que estão tentando fazer uma re-leitura do Antigo Testamento procurando introduzi-lo ao Novo Testamento, mas o próprio Jesus disse que é impossível colocar vinho novo em odres velhos. E sabemos que ele se referia a nova aliança.
Falamos mais sobre o diabo e como podemos vencê-lo, do que falamos de Deus e como ter íntima comunhão com ele. Precisamos fazer uma leitura mais atenta do Salmo 91, e honestamente responder a pergunta: Deus está de fato conosco? Se a resposta for sim, então voltamos à pergunta inicial: Quem será contra mim?

2. Não nos dará com Jesus, e de graça, todas as coisas? V.32.

Entendendo o termo graça:
Palavra de raiz latina Gratia, traduzida do grego Charis, que significa graciosidade, benevolência, favor, bondade. E esta dádiva, ou presente que recebemos de Deus é sempre de caráter imerecido.
Portanto, “experimentar a graça divina é receber uma dádiva que não podemos adquirir por conta própria, e da qual não somos merecedores”.
É a partir da compreensão correta do que é graça, que passamos a nos relacionar com Deus de maneira adequada, nunca tentando comprá-lo ou suborná-lo com nossa piedade religiosa, como no caso daquele fariseu da parábola contada por Jesus em Lucas18. 9-14.
Paulo está tentando enfatizar que tudo que Deus nos dá, vem a partir de Jesus e sua graça.

A bíblia está cheia de exemplos, e gostaria de citar apenas dois, a cura do jovem lunático Mc 9.23-24, e a volta do filho pródigo Lc 15.11-31.

A cura do jovem lunático:
A graça se manifestou na vida de um homem que com o coração rasgado de dor perdeu a capacidade de crer. Ele não merecia, todavia, Jesus atendeu seu pedido e curou o filho daquele homem desesperado.

A volta do filho pródigo:
A pergunta é: o que o filho pródigo merecia? A resposta óbvia seria castigo. No entanto, o vemos recebendo a restituição de sua posição como filho amado. Isso é graça.

André Comte-Spoville, embora sendo ateu, escreveu algo a respeito da graça que é digno de transcrever aqui, vejamos:

“O amor que Deus tem por nós, segundo o cristianismo, é ao contrário perfeitamente desinteressado, perfeitamente gratuito e livre: Deus nada tem a ganhar com ele, já que é infinito e perfeito, mas ao contrário se sacrifica por nós, se limita por nós, se crucifica por nós sem outra razão a não ser um amor sem razão, sem outra razão não ser ele mesmo se renunciando a ser tudo. De fato, Deus não ama em função de quem nós somos, que justificaria esse amor, porque seríamos amáveis, bons e justos (Deus também ama os pecadores, foi inclusive por eles que deu seu filho), mas porque ele é amor e o amor, em todo caso, não necessita de justificação. ‘O amor de Deus é absolutamente espontâneo’, escreveu Nygrem. Ele não procurou no homem um motivo. Dizer que Deus ama o homem não é anunciar um julgamento sobre homem, mas sobre Deus. Não que o homem é amável; é Deus que é amor”
Pequeno tratado das grandes virtudes, Pg. 299.

“No cristianismo, o amor não é dado aos que já são dignos. Ao contrario ele quer bem ao que nada vale e lhe outorga valor”. Cf. Rm 5.8.
O grito da reforma protestante do século XVI, deve ser o nosso também: “Sola Gratia” somente por meio da graça.

3. Quem fará acusação contra os escolhidos de Deus. Quem os condenará? Vv 33-34

O texto diz que é o próprio Deus quem os justifica, e mais que Jesus morreu por nós, ressuscitou e intercede por nós junto ao Pai.
Como podemos acusar e condenar o próximo, se somos iguais? Cf. Rm3.23 e Rm11.32
Gostaria de citar aqui as palavras do reverendo Caio Fábio no livro o Divã de Deus:

“Somos feitos da mesma estrutura o pó.
Somos possuídos pela mesma natureza, a dos seres caídos.
Vivemos e nos alimentamos do mesmo sentimento, a esperança;
Sofremos do mesmo mal, a dúvida.
Carecemos das mesmas coisas, amor, graça e perdão”.

Deixemos que a bíblia fale por si mesma:

“Nenhuma condenação há, para os que estão em Cristo Jesus” Rm 8.1.

“Não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos um advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” 1 Jo 2.1.

“Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julga a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas” Rm 2.1.

“Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio Senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é Deus para firmá-lo” Rm 14.4.

Finalizemos com as palavras do próprio Jesus:

“Não julgueis, para que não sejais julgados” Mt 7.1.

4. Quem nos separará do amor de Cristo? V 35.

Em outras palavras, o que tem nos afastado da comunhão para qual Jesus nos chamou? Porque como diz o pastor Ed René, que o chamado a salvação é necessariamente um chamado a intimidade (comunhão). Então o que é que pode nos separar desse amor?
As dívidas, o mau relacionamento conjugal?
As frustrações da vida, a rotina, a mesmice?
Os inimigos, ou os amigos?
A falta de prosperidade, ou o contrário a muita prosperidade?
A ausência da bênção, ou as muitas bênçãos? (como no caso do filho pródigo)

Dos versículos 37 a 39 fica claro no parecer de Paulo apóstolo, que nada pode nos separar de Cristo, uma vez imersos em sua plenitude.

Gostaria de terminar com as palavras do padre Antônio Vieira:

“Estar com Cristo em qualquer lugar, (situação) ainda que seja no inferno, é estar no paraíso”.

"Navegar é preciso"
João Ferreira Leite Luz

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