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"Projeto Inquietações e Reflexões"

(Categoria - Reflexões)

[Reflexão do lat, reflexione, ‘ação de voltar para atrás’].

Em que momento surge o projeto reflexões:

Oprojeto reflexões, surge nesse momento tão ambíguo que vivemos. Eu diria que esse tempo da história chamado de pós-modernidade é ímpar. Vivemos uma igreja marcada pela época, em que o capitalismo é quem dita as regras de como se deve fazer teologia. Os modismos também têm influenciado fortemente nossa maneira de interpretar as Escrituras, hoje estamos buscando o meio que dê mais certo, sem, contudo, questionar sua legitimidade.
Infelizmente o culto da maioria das igrejas contemporâneas é antropocêntrico, [De antrop (o)-+-centr (o)-+- ico] (Adjetivo. Que considera o homem como o centro), ou seja, todos os esforços são gastos para agradar o ser humano, desde o título das campanhas até as orações feitas do púlpito. Precisamos voltar ao culto teocêntrico,
[De te (o)-+-centr (o)-+-ico.] (Que tem Deus como centro de todas as coisas). O nosso objetivo maior no culto deveria ser relacionar-se com Deus, aliás, a própria palavra, “culto” quer dizer prestar honra a divindade, mas estamos invertendo a ordem e prestando nosso culto aos homens, buscando satisfazer todos os seus caprichos.
As igrejas chamadas neo-pentecostais fortemente influenciadas pela teologia da prosperidade e também pela herança do misticismo católico romano medieval, vêm lentamente sepultando o cristianismo apostólico ortodoxo.
Lamentavelmente vivemos um período em que um grande sermão já não é valorizado. Estamos nos satisfazendo com jargões, com frases sem nenhum conteúdo, com sermões no mínimo rasos, e, que indicam falta de preparo e paixão pela arte homilética.
A hermenêutica das igrejas modernas é pobre, muitas vezes risível. Tira-se o versículo do seu devido contexto e força-se o sentido do texto para afirmar o que bem entender. Isso fica muito evidente quando notamos que já não se pregam mais sermões expositivos, perdeu-se o elã por um dos estilos de pregação que mais honram as escrituras, enriquece o coração dos ouvintes e faz do pregador um estudioso disciplinado.
Vivemos o período da chamada baixa cultura (cultura Pop, ou ainda, cultura de massa), em que a grande fonte de informações são os meios de comunicações em massa. A televisão e internet vêm substituindo os livros. A cultura de nossa época produz em nós uma compreensão rasa dos fatos sem exigir muita reflexão, aliás, numa geração preocupada com pen-drive, mp5, e ipod. A palavra reflexão vem caindo em desuso, quanto mais sua prática.
A época em que vivemos também é marcada pelos sucessivos escândalos que ocorre no meio cristão. Parece-me que estamos numa espécie de extinção de lideres sérios, que estejam dispostos a ter prejuízos aqui nesta vida, ou como disse o próprio Jesus de Nazaré:

“Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará. Pois que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou o que o homem poderá dar em troca da sua alma?” Mt 16.24-26.

O que é o projeto reflexões:
O projeto reflexões é um lugar para quem quer pensar, sem ter a necessidade de estar político-religiosamente exato, não queremos ser os “guardadores da reta doutrina”; ou ainda, senhores da verdade, absolutos e inflexíveis sabedores do conhecimento divino.
Quem nós somos? Somos quem quer ter a liberdade para pensar, sem o cabresto asfixiador da religiosidade dos dias atuais. Queremos nos livrar da canga bitolada do pensar fundamentalista.
Somos quem acredita que cristianismo está muito acima das questiúnculas e querelas, que estão sendo abordadas pela religião. Aliás, acreditamos que cristianismo é uma “pessoa” como disse Karol Wojtyla (Papa João Paulo II):

“O cristianismo é uma pessoa, uma presença e um rosto: Jesus, que dá sentido e plenitude à vida do homem”.

Necessitamos com urgência repensar a fé nesse momento em que a igreja enfrenta tamanha crise de credibilidade, e não só de credibilidade como também uma crise de audiência, pois a igreja moderna fala muito, mas é lamentável, porquanto a sua voz tem caído no descrédito, para não dizer no ostracismo. Precisamos com urgência resgatar o discurso cristão, no empenho de mostrar que não é apenas um palavrório inútil.
Nós do projeto reflexões acreditamos que o discurso deve vir seguido de obras concretas, ou como disse o padre Antônio Vieira em 1655:

“... Antigamente convertia-se o mundo; hoje, porque não se converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, ao passo que antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obras são tiro sem bala: atroam, mas não ferem...”.

Portanto, “pretendemos associar a teoria com a prática. O discurso com a ação, à fé com as obras”.
O projeto não visa ser inusitado; excepcional. Pretendemos ser comuns, sem, todavia ser medíocres. Pretendemos caminhar na vida com simplicidade, sem, contudo encarar os desafios da vida de forma simplista.

O que se pretende com o projeto reflexões:
O projeto reflexões é um trabalho destinado à reflexão, com o intento de levar pessoas a não aceitarem tudo que ouvem. Pois, não é porque vem num rótulo cristão que é de fato legítimo.
O projeto pretende acima de tudo promover vida, justiça e dignidade ao ser humano independente de sua religião. A nossa grande ênfase será o ser humano em relação ao Criador.
Acreditamos que as respostas para as questões mais profundas estão em Jesus, aliás, pensamos que o homem foi criado para se realizar no próprio Deus, ou nas palavras de Agostinho chamado Santo: “Fecisti nos ad Te et inquietum est cor nostrum donec requiescat in Te”. (Criaste-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós). Ou ainda como escreveu o Russo Fiodor Dostoyesky: “O coração do homem tem um vazio do tamanho de Deus”. O grande pensador Britânico C.S. Lewis, disse a mesma coisa com outras palavras: “Deus não pode dar felicidade alguma além de si mesmo, pois ela não existe fora dele”.
Jesus, o Deus encarnado é a resposta. Pois o homem foi criado essencialmente para se relacionar com Deus, e Jesus é a chave para uma espiritualidade sadia.
Também acreditamos que Jesus é a melhor, senão a única maneira de compreender a bíblia. Quando quisermos ter uma boa percepção do Antigo Testamento, devemos olhar como Jesus se comportou diante dele, que leitura ele fez. E quando quisermos entender os valores do Novo Testamento, devemos não apenas estudar seus ensinos, mais principalmente perceber como Jesus se relacionou com o Pai, e com as pessoas.

Alguns mentores do projeto reflexões:
Quem vem lendo meus textos, e ouvindo meus sermões, sabe que inegavelmente tenho “bebido” livremente dos textos do Ricardo Gondim. Que inclusive é quem me influencia mais diretamente. Considero o Ricardo um dos pastores mais lúcidos da atualidade, com todo o seu realismo, sua doçura poética, sua erudição; sua sinceridade quando se expõe, e acima de tudo por ser uma pessoa extremamente humana e acessível a todos. Em minha opinião, o Ricardo é um mestre do púlpito, como foi o próprio Charles Haddom Spurgeon.
Os escritos do Ricardo têm hoje, a mesma força que tiveram as noventa e cinco teses de Lutero no século XVI. Tenho visto muitas pessoas e consequentemente muitas igrejas re-significando seu conceito de cristianismo e espiritualidade, a partir dos textos e sermões do Gondim. Acredito que ele seja uma espécie de Martinho Lutero do século XXI, que não se conforma com os exageros do cristianismo atual.
Ed René Kivitz, pastor batista. Também tem me ensinado a ler a bíblia por ângulos diferentes. Com sua teologia aguçada, com sua filosofia ousada. Aliás, a semelhança de Santo Agostinho. Considero o Ed René não só um grande teólogo como também um grande filósofo.
Philip Yancey, escritor norte americano, me apresentou um lado do sofrimento e a reação de Deus quando sofro que fiquei apaixonado por seus livros. Sua escrita simples e profunda é simplesmente marcante.
Sinto-me profundamente influenciado por gigantes como Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King Junior, S.Francisco de Assis e pasmem-se, pois até Mahatma Gandhi têm me ensinado ricos princípios que não existem dentro do cristianismo vigente.
Fernando Pessoa e Machado de Assis, homens de tamanha envergadura, me ajudaram a alargar as fronteiras do meu raciocínio, me proporcionando níveis mais largos de compreensão.
Eu poderia citar aqui outros, mas a partir destes já dá para ter uma idéia do tom das discussões que serão abordadas.

Qual é o meu lugar no projeto reflexões:
Reconheço o meu lugar, que é entre os comuns, entre os anônimos e entre os pequenos; aliás, quando me atrevo a rabiscar alguns textos, sei que não sou escritor, pois não tenho “pedigree” de escritor, todavia, me contento em ser um mero “escritor” de final de semana. Acredito que o que conta primordialmente seja a vocação e não o academicismo. Penso que a formação acadêmica vem como complemento à vocação; também não desprezo a contribuição do autodidatismo que é de infinito valor, e que somado a inteligência intuitiva produzem grandes pensadores.
Por que escrevo? É a pergunta que faço a mim mesmo. Escrevo porque gosto de escrever, escrevo não para competir com os demais (pois eu perderia), pois acho que o Reino não é feito de competições. Escrevo para colocar para fora as inquietações da alma, para desabafar. Sinto-me feliz ao permitir que minha pena extravase idéias e emoções através da literatura.
Para ser sincero lamento muito que o meu exercício de pensar, e, colocar no papel aquilo que penso, tenha irritado alguns, esse não é o meu objetivo. Escrevo não um dogma ou uma doutrina inflexível, o que coloco no papel é apenas uma proposta, aceita quem quiser. No entanto, não despreze meus argumentos antes pense e repense, pois este é necessariamente o meu objetivo, levar pessoas a pensarem, e espero que aqueles que me lerem sigam o conselho de Francis Bacon: “Ler não para contradizer... mas para pensar e ponderar”. Gostaria de reconhecer que posso errar e escrever besteiras, pois errare humanum est, porém, prefiro ir escrevendo e amadurecendo com meus erros e minhas idéias do que ficar só planejando, estudando e sonhando. Gosto de um poema do grande poeta Camões em que ele diz exatamente isso que estou tentando dizer: “Não se aprende, Senhor, na fantasia, sonhando, imaginando ou estudando, senão vendo, tratando e pelejando”

Gostaria de terminar este texto citando, ou melhor, plagiando as palavras do próprio Lutero ao se defrontar com as implicações da reforma:

“Minha consciência está cativa da palavra de Deus... Aqui estou. Não posso agir doutro modo. Que Deus me ajude”.

Acredito que aqui ainda cabe uma oração: Senhor Jesus, nunca me deixe esquecer de que, aqueles que lidam com tua palavra influenciam sobre o destino eterno das pessoas.
Amém.

Timeo hominem unius libre – temo o homem de um só livro
João Ferreira Leite Luz

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