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Duplamente órfão


(Categoria - minha história)

Decidi republicar este texto. A razão é que estou tentanto fazer uma homenagem à memória do meu falecido pai no dia em que faz um ano do sua morte.


Domingo dia 11 de maio de 2008, eu esperava dormir um pouco até mais tarde, lá pelas 7 horas da manhã a campainha tocou e eu relutei por atender, achei um insulto uma pessoa tocar a campainha da casa de alguém às 7 da manhã de um domingo frio de outono. No entanto como a pessoa insistiu, resolvi levantar e atender. Para minha total surpresa era minha irmã mais velha que estava no portão com a notícia do falecimento do meu pai. Neste dia eu estava me tornando duplamente órfão. Minha primeira orfandade foi quando meu pai se separou da minha mãe. Então passei a viver sem a presença daquele que eu julgava o melhor pai do mundo, todavia, cresci, e agora estou me tornando órfão pela segunda vez.
Neste mesmo dia viajamos para a cidade de Marília, pois o sepultamento seria lá. Quando chegamos ao velório, e vi meu pai deitado naquele caixão. As poucas lembranças da minha infância junto com ele vieram à tona e não resisti, tentei dar um de durão, mas chorei, feito criança aos 31 anos de idade.
Velório dos outros já é difícil, imagina estar em uma sala fúnebre com seu pai morto dentro de um caixão, é horrível. Horrível tentar disfarçar a ausência que ele provocou a vida inteira, e agora ele se foi para o resto da vida, e a gente tentando disfarçar com conversas sem assuntos e piadas sem graça.
Depois de certo tempo, veio o padre para fazer as exéquias, e, apesar das palavras bonitas e confortantes que ele disse, o achei meio mecânico, e, me perguntei quantas vezes ele já havia dito àquelas mesmas palavras naquele dia. Mas tudo bem é o trabalho dele, entretanto, penso que ele podia ser menos profissional e mais humano, ou, pelo menos tentar, sei lá, já devo estar escrevendo besteiras.
Quando chegou a hora. Sabe àquela hora dura de carregar o caixão em direção ao cemitério, me candidatei a ajudar a carregar. Pois era a minha última chance de estar perto dele e lhe prestar uma última homenagem, ou talvez seja porque sempre vi nos filmes que os filhos devem carregar o caixão, não sei ao certo, só sei que carreguei o caixão do meu pai até o túmulo, e me senti honrado em poder fazer isso. Quando eu arrumar coragem vou prestar uma homenagem ao meu pai, digo arrumar coragem por ser uma homenagem meio esquisita. Vou deixar a barba crescer igual a dele, e ele tinha uma barba enorme. É quem sabe qualquer dia eu me pegue barbudo feito meu pai.
Quando chegamos ao cemitério, a primeira coisa que vi foi uma fonte de água, uma espécie de chafariz, também vai ser a imagem que vai ficar gravada para sempre nos arquivos da minha memória. O cemitério era simples, todo gramado, não tem aquelas tumbas, ou capelas. Apenas uma simples lápide indicando o lugar do sepultamento.
Por fim o momento mais crucial de todos chegou, descer o corpo do meu pai naquele túmulo gelado. Houve um silêncio frio naquela tarde triste, depois lágrimas. Após o fechamento do sepulcro sabíamos que nesta vida não o veríamos mais.
Eu como cristão acredito na ressurreição dos mortos, e num desses dias espero poder dar mais um abraço em meu velho pai, nem que seja o último.

Que Deus me ajude!
Memento mortale est - lembra-te que és mortal
João Ferreira Leite Luz

Comentários

Anônimo disse…
Sinto muito por seu pai... achei lindo o carinho e o amor que sente por ele... imagino não ser nada fácil lidar com essa falta... mas tbm acredito que Deus tem te dado conforto... e com toda certeza vc dará esse abraço nele naquele grande dia...

Fica com Deus!!

Abraço para vc e sua familia!
João Luz disse…
Lany,

Fico grato pelo carinho de tuas palavras. Valeu!

Abraço,

João
Anônimo disse…
Eu que agradeço... fiquei feliz em saber que gosta do meu espaço... adoro o seu tbm... a reciproca é verdadeira.

Tudo de bom para vc e sua familia... Abraço! =)