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Deus não se restringe as fronteiras da religião

(Categoria – Estudos)

Gênesis, 20

Como é fácil cair na ilusão de que é possível tentar colocar Deus em bitolas que nós criamos. Tentamos restringir Deus as fronteiras do nosso raciocínio, molda-lo ao nosso método. Muitos de nós lutamos para fazer com que Deus caiba dentro de nossas molduras teológicas. Entretanto, Deus vai além das fronteiras, quebra todos os paradigmas, pois é impossível engarrafa-lo.
Estamos vivendo um período muito curioso da história, pois vivemos na pós-modernidade e possuímos uma teologia engessada da idade média, e os fundamentalistas lutam com todas as forças para sustentá-la assim, inflexível, incomunicável com a cultura da nossa contemporaneidade. Urge deixarmos uma teologia engessada para dialogarmos com os pensadores de nossa época. Precisamos de uma teologia que pense a fé dentro do contexto contemporâneo, que leia a realidade de nossos dias.
O texto de Gênesis 20 é mais um daqueles em que Deus quebra todos os padrões que estabelecemos para que ele trabalhe. Mesmo que o estudo desse assunto seja polêmico, ainda sim merece nossa atenção.
Portanto, ouso rabiscar algumas ideias, vamos lá:

1.As misericórdias e as bênçãos de Deus não se restringem a um grupo de privilegiados, mas a toda a humanidade. V.6.

O interessante nessa história é que Abimeleque era um rei pagão, que inclusive cultuava diversos deuses, entretanto, vejam o que Deus faz por ele quando este é vítima das mentiras de Abraão. Deus se coloca ao lado dele e o ajuda.
As providências divinas são sobre todos indistintamente. Jesus disse isso nos seguintes termos: “Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que vos perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos”. Evangelho de Mateus 5.44-45.
Deus não nos ama com um amor mais especial porque somos crentes, aliás, nos amou quando ainda éramos pecadores, e é Paulo o apóstolo quem diz isso magistralmente: “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores”. Aos Romanos 5.8.
Deus não possui uma elite composta por pessoas especiais, para com Deus como diz a bíblia não há acepção de pessoas. Então não são apenas os crentes que tem casamentos bem ajustados, não são apenas os crentes que prosperam no trabalho; também os crentes não são os únicos a passarem em concursos e vestibulares. Na parábola do filho pródigo o pai amava tanto o filho mais velho, o obediente. Quanto o mais novo, o rebelde. Em outras palavras, Deus não escolhe a quem deve amar, Deus ama a todos de modo igual sem esse negócio de filhinho predileto. Deus ama os pecadores igualzinho como ele ama aqueles que estão nas igrejas. Por essa razão é que as Escrituras dizem que Deus é amor. E um Deus absurdamente amoroso, que se renuncia em nome desse amor, e que quebra suas próprias regras, muitas vezes não é bem vindo em nossas igrejas.

2.Os nossos fracassos não impedem que os desígnios divinos se cumpram em nós. V 7 e 17.

Abraão profeta? Que tipo de profeta é esse deve ter pensado Abimeleque. Profeta mentiroso, profeta inseguro do seu próprio Deus; profeta que coloca em risco a integridade da própria mulher e as promessas da aliança feita com Deus. Pois é exatamente essa imagem que Abraão está passando aqui nesse contexto de sua história.
Parece-me que a história de Abraão é um pouquinho a história de todos nós, se, formos sinceros para admitir, é claro. Porque a vida não é feita só de vitórias, mas também de fracassos. Vez por outra decepcionamos a Deus, pisamos na bola e nem por isso ele deixa de acreditar em nós, em nosso ministério; e nem por isso Deus deixa de nos considerar “profetas” que mesmo fracassado ainda pode abençoar a outros. Cf. v17.
Chega de arroubos triunfa-listas, de mensagens bombásticas, de super-heróis imbatíveis que nunca tropeçam; que nunca erram. Chega! Chega de semi-deuses, estamos é precisando de mais seres humanos como Abraão.

3.Quando se faz necessário, Deus usa um pagão como profeta para repreender o próprio profeta. Vv 9-10.

Deus usou o Abimeleque um rei pagão, par repreender Abraão e Sara seus servos.
Será que isso não vem ocorrendo na atualidade? Deus não tem falado por meio de uma espécie de “profetas seculares”?
A credito que muitas pessoas que não são necessariamente religiosas, estão falando o que era para os nossos pastores dizerem. Às vezes uma poesia tem muito mais lampejos de uma teologia sadia do que muitos sermões que já ouvi. Muitas músicas que gostamos de rotular de mundana possuem mais significado do que as músicas que consideramos sacras.

4.Mesmo caminhando com Deus é possível sentir-se humanamente inseguro. V 12.

Abraão estava enfrentando uma crise de insegurança. Ele está inseguro de Deus e porque está inseguro de Deus, fica inseguro de si próprio. Como conseqüência fica inseguro do próprio casamento, da mulher e assim vai.
Quantas vezes já passamos por isso, ficamos inseguros de tudo e de todos. Quero asseverar que isso não constitui uma grave falta de fé, Abraão fracassou diversas vezes e foi considerado o pai da fé, e ademais, isso é pertinente a todo ser humano normal, todavia quando estivermos inseguros devemos nos agarrar a Deus, pois nesse caso ele é o único que pode nos dar segurança. Segurança de quem nós somos, do que estamos fazendo; para onde estamos indo, e o mais importante, como estamos indo.

Que Deus me ajude!
Sola Gratia – apenas pela graça
João Ferreira Leite Luz

Comentários

Geneci - Ribas do Rio Pardo - MS disse…
Muito lindo este espaço!!!

...eu estava fazendo um trabalho da faculadade, e sem querer encontrei algo que me transmitiu uma paz interior(...que no momento estou muito carente disso!).

g-ci@hotmail.com
Anônimo disse…
simplesmente li esse texto e concordo com seus termos e critico a existencia de religioes.Embora seus conceitos não devem ser expressos desta maneira pois assim voce faz exatamente o mesmo das religioes impondo sua opinioes e rejeitando direta ou indiretamente a de seus irmaos.
João Luz disse…
Querido Murillo,

Agradeço por tuas palavras deixadas aqui. Já faz um bom tempo que abandonei a religiosidade, reconheci que sou um patife e uma farsa. E só o que me resta e confiar nas misericórdias de Jesus para de alguma forma ser mais ou menos parecido com Ele.

Abraço,

João